terça-feira, 21 de agosto de 2012

Pelos Poderes do He-Man



Que tão poderosa película é essa que nós mulheres carregamos – ou carregávamos, não sei – que parece ter mais valor que nossa consciência?

O conflito do nosso livro/peça gira em torno da descoberta da não castidade da personagem principal (Silene) por sua família. Silene carrega nas costas o peso da honra de toda a sua família, que só poderia existir caso seu hímen também existisse. A pergunta que fica no ar é: Por quê?


Angelina Jolie/Brad Pitt de 3600 a. C.    
Há toda uma cultura tradicional e até religiosa em torno da castidade. Existem diversos grupos, como o famoso Eu Escolhi Esperar, que prezam pela virgindade d@s jovens até o casamento com base numa fé. Mas verdade seja dita: somos nós mulheres que viemos ao mundo com “lacre”, somos nós que sentimos dor antes de prazer, nós que temos o corpo violável. Ou você já viu homens serem estuprados por mulheres taradas soltas nas ruas? Já viu um homem indo à “Delegacia do Homem” porque sua esposa o obrigou violentamente a transar, quando ele só queria descansar depois do dia pesado com as crianças? Já viu um cara chorar (de culpa, não de alegria) porque teve sua primeira vez? É, então concordamos que vivemos numa sociedade machista, onde é imposta à mulher a castidade até o dia do seu casamento.

Hoje em dia, muita coisa já é diferente. Já existem até as mães que incentivam as filhas a fazer o “teste drive” ante de escolher aquele parceiro pra vida toda, mas, na maioria dos casos, somos cercados de um conservadorismo gigantesco.


Vou invadir a fofíssima coluna Papo Retrô e dar uma pequena voltada no tempo:

As mulheres - se é que podemos chamar nossas ancestrais do sexo feminino dessa forma – tinham total liberdade de escolher seus parceiros, elas dominavam, pois tinham o poder da vida. Vários homens tentaram cortar seu “júnior” imaginando que assim também poderiam engravidar. Todas as crianças cresciam juntas e em igualdade. Todo foi perfeito até o neolítico. Ah, o neolítico... A famosa época em que tudo funcionava como nos sonhos de Marx. Até que...

Civilizações: A partir da produção de excedentes, surgiu então o domínio do homem sobre o homem, e o que isso quer dizer? Papai agora quer saber quem é seu filhinho, afinal não vai deixar sua herança pra qualquer um. Daí em diante, a mulher vira um objeto de reprodução e só deve pertencer a seu marido, sendo obrigada a casar virgem. E com essa ideia surgiu o Programa do Ratinho com seu polêmico quadro “Quem é o Pai?”. Até algum tempo, a lei assegurava aos homens o direito de anulação do casamento caso descobrisse que a esposa não chegara virgem até a noite de núpcias, e isso estava inclusive nas leis civis brasileiras.


Indo pra rua decidir nosso direito no quarto, ou no sofá, ou na escada...
1950: Finalmente alguém inventa as pílulas contraceptivas e dá início à chamada “Revolução Sexual”, que consistiu apenas na revolta de mulheres que sabiam que eram donas de seus corpos, e que liberdade sexual não era um direito restrito aos homens. Essas mulheres valentes tiveram coragem de peitar a sociedade e gritar ao mundo que só elas tinham direito de decidir sobre seus corpos e vidas.

E a partir disso, todo mudou. Mas apesar dos avanços, as coisas não viraram flores, mesmo na década de 70 e até nos dias de hoje, muitas são recriminadas ao serem “pegas” com camisinhas ou pílulas anticoncepcionais antes do casamento. Muitas são chamadas de putas porque simplesmente começaram sua vida sexual quando sentiram vontade.
Cada mulher sabe sua hora, algumas podem se sentir à vontade pra isso só no dia do seu casamento, assim como outras já se sentem prontas no alto de seus 15, 17 ou 43 anos. 
E quem foi que disse que todo mundo tem que casar?

Mas não há como não sentir uma vontade imensa de agradecer a essas corajosas revolucionárias por terem tentado mostrar à sociedade que ela não tem direito de julgar, e sim o dever de entender que não somos santas nem putas, somos apenas mulheres, com desejos, medos, sonhos, sentimentos, com hímen ou não. E depois, nada de papinho de “perdi a virgindade”, ninguém está perdendo nada, está só ganhando uma nova e deliciosa fase na vida que, mais cedo ou mais tarde, chega pra tod@s nós.





Ana Priscila Alves

Só mais uma chata como qualquer feminista, socialista e marxista. Só mais uma paranoica como qualquer aluno do IF. Só mais uma pirralha querendo virar gente grande como todas as outras. Só mais uma inconformada tentando ser diferente e buscando igualdade. Mais no Facebook ou @anapriscila.

3 comentários:

  1. Anônimo que deveras te ama!22 de agosto de 2012 às 00:28

    Genial.

    Atenciosamente,
    Felipe Ajame

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  2. nada ver colocar o Escolhi esperar no meio. Religião é religião, não se mete, não se julga, não se aceita, apenas se respeita. No demais, bom texto.

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  3. A razão para, senão todos, uma boa parte dos problemas da humanidade: Produção de excedentes.

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